quinta-feira, 7 de maio de 2009

Tá louco de bom

Já faz mais de 10 anos que eu pilotei um kart pela primeira vez. Foi no Jardim Sul – a pista não existe mais há muito tempo – com dois primos, kart fraquinho e tals. Mas foi muito excitante. A primeira vez a gente não esquece, né? Andei bem e fui o melhor dos três.

Pouco tempo depois, voltamos lá com mais um tio. E um cara que não conhecíamos também participou da bateria. O cara andava muito e chegou na frente fácil, com uma volta sobre o segundo - no caso, eu.

A terceira vez foi num indoor que ficava na Vila Leopoldina. Pista longa, de asfalto – a do Jardim Sul era cimento – e bons karts. Quatro primos, dois tios, o Cunhado e eu formamos o grid. Lembro-me de largar em quarto e chegar em quinto, quase uma volta atrás do quarto. E que mesmo assim fiz a volta mais rápida.

No fim, o comentário do Gel que foi só pra assistir: “O Camilo anda bem. É muito rápido, mas não dá duas voltas sem bater.” Guardei isso.

Depois disso fiquei desempregado. No money, no kart. E não pilotei mais durante uns 10 anos. Até que...

No ano passado recebi um email da associação de funcionários da Empresa convidando quem quisesse participar, "de grátis", de um torneio de kart a se inscrever. Eu me inscrevi imediatamente! E comecei a pesquisar na internet dicas de pilotagem para não passar vergonha.

Quase um mês depois recebi outro email informando que as inscrição superaram as expectativas e o torneio ia atrasar. Pouco tempo depois, enfim...

Seriam 6 baterias. Cinco baterias classificatórias com 20 pilotos cada uma. Ou seja, eram 100 inscritos! Os 4 primeiros de cada bateria se classificaria para a bateria final. A primeira bateria seria composta apenas por mulheres.

Inscrito na segunda bateria, fui pra pista pensado em chegar pelo menos em quarto pra poder participar da final. Pra mim já estaria ótimo! Tive sorte de ser sorteado logo e ser um dos primeiros a entrar na pista para o qualifying. Lembrando das dicas da internet e do comentário do Gel, fiz duas voltas na boa e depois meti o pé. Já na quarta volta fiz o tempo que me daria a pole position. Na hora de formar o grid, quando me chamaram em primeiro, mal acreditei. Lembrei de mais uma dica da internet e me concentrei muito pra passar a primeira curva em primeiro após a largada. Deu certo e logo abri boa vantagem para o segundo, passando só a administrar. Tirando um susto quando um retardatário rodou na minha frente e quase bati nele, foi uma bateria tranquila e venci de ponta a ponta.

Aproveitei que teriam mais 3 baterias antes da final e procurei descansar, beber água e alongar. Uns colegar aproveitaram pra tirar sarro quando me viram alongando, mas eu sabia que se não fizesse isso teria fortes dores depois. Coisa que, aliás, esses mesmo colegas reclamaram.

Minha meta para final era tentar um lugarzinho no pódio. Se não desse, tudo bem: até ali, pra mim, a brincadeira já tinha valido a pena. Eu estava muito contente com a primeira bateria.

Na final não tive muita sorte no sorteio e fui um dos últimos a entrar na pista. Além de tráfego, um colega (Marcão) insistia em fechar a porta apesar de mais lento. Desisti de ultrapassá-lo e procurei ficar bem distante dele pra tentar uma voadora. Mas não deu muito certo e larguei em quarto, atrás do Marcão e à frente do Tiquinho.

Assim que deu a largada o Tiquinho já estava ao meu lado. "Queimou a largada" - pensei. Preocupado em não bater na primeira volta, fiz a primeira curva pelo lado de fora emparelhado ao Tiquinho. Mas na segunda curva alguém à frete bateu e o Tiquinho, pra não bater no cara, bateu de lado no meu kart e rodou. Eu segui, mas perdi posição. Na curva seguinte, na freada, o mesmo Tiquinho bateu forte na traseira do meu kart e perdi muitas posições. "Já era o pódio, vou ficar de boa" e tirei o pé pra passar a muvuca. Acho que caí pra 11º.

Aos poucos fui recuperando posições. Travei boa batalha com o diretor do RH, passando-o, levando o troco e passando-o novamente.

A certa altura, alcancei o Marcão. E não conseguia passá-lo. Tentava por um lado, por outro, por dentro, por fora... e porta na cara. Já estava prestes a dar um toque nele quando vi que estámos nos aproximando da Moni, que apesar de andar bem, estava mais lenta. "Ele vai errar" - pensei. E não deu outra. Numa curva a Moni freou cedo e ele se atrapalhou. Aproveitei e meti o kart por dentro passando os dois e fechando logo a porta pra não tomar troco. Imagine a minha felicidade. "Acho que tô en quarto" - pensei.

Aproveitei pra forçar bastante e, soube depois, fiz a melhor volta ali. Ia tão forte que o kart até escapou um pouco numa curva, mas por sorte consegui segurar. E logo alcancei o Tiquinho. Passei uma volta colado nele e percebi que ele escorregava bastante. Eu tava tão concentrado que nem vi a bandeira branca indicando última volta. Numa curva fechada, tipo um V, eu mudei o traçado da entrada e consegui sair quase emparelhado com ele, meio kart atrás. A curva seguinte era muito fechada, um U, e eu chegaria por dentro. "Vou passar". Mas ele apontou a curva com a mão esquerda como quem diz "vou fechar e vamos bater". No último instante freei forte e ele se confundiu perdendo ponto de freada e escorregando. Passei e fechei a porta e logo depois recebi a bandeira quadriculada. Fiquei doido pra saber em que lugar chegara.

Quando soube que tinha sido o terceiro - e com a melhor volta, quase um segundo mais rápido que a segunda melhor volta - fiquei muito feliz. Em casa, mostrava o trofeuzinho pro Digão, que ainda não tinha um ano. Acho que o fato de poder mostrar algo pro meu filho, ainda que ele não entendesse nada, é que me deixava orgulhoso.

Na segunda-feira, o pessoal do meu setor veio brincar: "Só terceiro? Ih, fraquinho, Camilo".

E eu, lembrando de uma música do Ultraje a Rigor respondia:

"Ah, pra mim tá louco de bom!"

Um comentário:

Marcos Bonilha disse...

Muito bom Camilo, parabéns.

No meu tem o relato da vez que quase morri no Kart.

Mas, apesar disso, tenho saudades de andar, enquanto não arrumar um trampo, fico só na vontade.

Abraços